Se você já pesquisou por carros seminovos, provavelmente se deparou com o termo “carro de repasse” em algum anúncio, geralmente acompanhado de um preço muito abaixo da Tabela FIPE.
A oferta parece tentadora e pode ser a oportunidade de comprar um modelo superior gastando menos. Mas, ao mesmo tempo, gera uma enorme desconfiança.
O que exatamente é um carro de repasse? Por que ele é tão mais barato? Tem garantia? É um bom negócio ou uma grande armadilha?
Neste guia completo e atualizado para agosto de 2025, vamos desvendar todos os mitos e verdades sobre o carro de repasse. Explicaremos o que o termo significa, por que as lojas optam por essa modalidade, quais são seus direitos como consumidor e como você pode (e se deve) aproveitar essas ofertas com segurança.
Afinal, o que é um Carro de Repasse?
Um “carro de repasse” é um veículo que uma concessionária ou loja de seminovos adquire – geralmente como parte do pagamento na troca por outro carro – e decide não revender diretamente ao consumidor final. Em vez disso, a loja “repassa” esse carro para outro lojista ou para uma pessoa física no estado em que ele se encontra, sem preparação, revisão ou garantia.
Basicamente, a loja está dizendo: “Estou vendendo este carro pelo preço que paguei ou com uma margem mínima, e o comprador assume toda a responsabilidade por qualquer reparo ou problema que ele possa ter”.
Por que uma Loja Vende um Carro como “Repasse”?
Uma loja opta por não colocar um veículo em seu showroom por diversas razões estratégicas e comerciais:
- Idade Elevada ou Alta Quilometragem: O carro está fora do padrão de qualidade que a loja costuma oferecer ao público.
- Custos de Recondicionamento Altos: O veículo pode precisar de reparos mecânicos, elétricos ou estéticos (pintura, pneus, estofado) que, se realizados, elevariam o preço final a um nível pouco competitivo.
- Histórico do Veículo: Pode ser um carro com passagem por leilão (financeiro ou de seguradora), o que, embora não seja ilegal, possui menor aceitação no mercado de varejo.
- Fora do Perfil da Loja: Uma concessionária especializada em SUVs de luxo, por exemplo, pode não ter interesse em preparar e vender um carro popular que recebeu na troca. É mais simples e rápido repassá-lo.
A Grande Polêmica: Carro de Repasse Tem Garantia?
Este é o ponto mais crucial e controverso. A premissa de uma venda de repasse é ser SEM GARANTIA. O vendedor deixa claro que o preço baixo se deve justamente à ausência de qualquer cobertura.
No entanto, a lei brasileira pode ter uma interpretação diferente. O Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seu artigo 26, estabelece uma garantia legal de 90 dias para produtos duráveis, como os carros, quando a venda é feita por um fornecedor (uma loja com CNPJ) a um consumidor final (pessoa física, CPF).
- A Brecha Legal: A venda de repasse geralmente tenta contornar essa regra, sendo direcionada a outros lojistas (relação comercial entre CNPJs, onde o CDC não se aplica) ou incluindo cláusulas contratuais em que o comprador declara estar ciente e de acordo com a ausência de garantia, comprando o carro “no estado”. Juridicamente, essa cláusula pode ser considerada abusiva se a venda for para um consumidor final.
Em resumo: Se você é uma pessoa física comprando de uma loja, a lei tende a te proteger com a garantia de 90 dias, mas esteja preparado para uma possível disputa judicial para fazer valer seu direito.
Análise: Vantagens e Riscos do Carro de Repasse
Vantagens (O Lado Bom 👍) | Riscos (O Lado Ruim 👎) |
Preço muito abaixo da Tabela FIPE: A economia inicial pode chegar a 30% ou mais. | Ausência total de garantia: O maior risco. Se o motor ou câmbio quebrar no dia seguinte, o prejuízo é todo seu. |
Oportunidade para Profissionais: Ideal para mecânicos, funileiros ou lojistas que sabem identificar problemas e consertá-los a baixo custo. | Problemas Mecânicos Ocultos: O carro pode ter vícios ocultos graves que uma avaliação superficial não detecta. |
Margem de Lucro na Revenda: Quem compra para consertar e revender pode ter um bom lucro. | Custos de Reparo Elevados: A economia na compra pode ser rapidamente consumida (e até superada) pelos custos dos consertos necessários. |
Acesso a um Modelo Superior: Permite comprar um carro de categoria superior pelo preço de um modelo de entrada. | Histórico Problemático: Maior chance de ser um carro com histórico de leilão, sinistro ou com documentação a ser regularizada. |
Checklist: Como Comprar um Carro de Repasse com Segurança?
Se mesmo com os riscos você decidir seguir em frente, é obrigatório tomar precauções extremas.
- Leve um Mecânico de Confiança: Esta é a regra número um e não é negociável. Peça para um profissional fazer uma avaliação completa do motor, câmbio, suspensão e parte elétrica.
- Faça uma Vistoria Cautelar Completa: Contrate uma empresa especializada para fazer um laudo cautelar. Isso irá verificar a estrutura do carro (em busca de batidas graves) e todo o seu histórico (passagem por leilão, sinistros, pendências judiciais).
- Calcule os Custos Futuros: Coloque na ponta do lápis o custo de todos os reparos visíveis (pneus, amortecedores, pintura, etc.) e some ao valor de compra para saber o custo real do veículo.
- Leia o Contrato com Atenção: Verifique se o contrato descreve o carro como “veículo de repasse, vendido no estado em que se encontra, sem garantia”. Esteja ciente do que você está assinando.
Conclusão: É um Bom Negócio para Você?
Um carro de repasse pode ser uma excelente oportunidade ou uma tremenda dor de cabeça. A resposta depende do seu perfil.
- Para profissionais do ramo automotivo: Sim, pode ser um ótimo negócio.
- Para o consumidor comum: Geralmente, não é recomendado. O risco de herdar problemas caros é muito alto e anula a economia inicial.
A menos que você siga à risca todo o checklist de segurança e esteja financeiramente preparado para arcar com reparos inesperados, o ditado “o barato sai caro” tem grandes chances de se tornar realidade.